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Poner puertas al tiempo por portas ao tempo

 

Cruz de pedra

largo do beco

rua direita

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perropampa™

A poesia não é uma arma carregada de futuro e o futuro não é uma arma carregada de poesia. A poesia é atemporal, só o passado tem futuro e nem a poesia nem o futuro são armas. A Cruz de Pedra é uma rua carregada de passado. Cenário perfeito para aqueles contos populares ao estilo de Mário de Carvalho, se não fosse porque, ano após ano, fica sem personagens. A Cruz de Pedra é uma rua futurista, muito mais futurista do que Álvaro de Campos poderia ter imaginado. O seu futuro, dizem, é uma porta de entrada para o passado (no fim de contas, aqueles romanos não eram assim tão loucos) e outras tantas mais para novos alojamentos locais. Mas, enquanto chega esse futuro perfeito do passado imperfeito, viver na Cruz de Pedra continua a ser poder gozar de vizinhos de confiança, conversar de varanda para varanda ao pôr-do-sol e dormir com as janelas abertas no verão, embalados pela barulheira dos cães insones, pelo cantar de galos destronados e pela saída prematura do interurbano das 4h34.

La poesía no es un arma cargada de futuro y el futuro no es un arma cargada de poesía. La poesía es intemporal, solo al pasado le sobra futuro y ni la poesía ni el futuro son armas. Cruz de Pedra es una calle cargada de pasado. Un escenario perfecto para esos cuentos costumbristas a la manera de Mário de Carvalho, si no fuese porque año tras año se va quedando sin personajes. Cruz de Pedra es una calle futurista, mucho más futurista de lo que Álvaro de Campos pudo alguna vez imaginar. Su futuro es, según dicen, una puerta de entrada al pasado (al final, no estaban tan locos esos romanos) y otras tantas más a nuevos alojamientos turísticos. Entre tanto, mientras llega ese futuro perfecto del pasado imperfecto, vivir en Cruz de Pedra sigue siendo poder disfrutar de vecinos de confianza, conversar de terraza a terraza al atardecer y dormir con las ventanas abiertas en verano, acunados por el berrinche de perros insomnes, el canto a destiempo de gallos destronados y la partida intempestiva del interurbano de las 4h34.

Fotografías y texto de perropampa™

Braga (Portugal), verano de 2020

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